Homenagem ao Prof. Tucano
Retirado do Blog Marcele Aires.
Há pessoas e há pessoas nessa vida.
Uma delas, rara, é o Tucano.
Pra quem não o conhece, o Tucano é referência no atletismo paranaense. Grande técnico, que dedicou sua vida ao esporte e principalmente aos atletas.
Hoje é o dia de seu aniversário e eu pensei em escrever um breve texto sobre sua figura. Não somente por seus atributos de técnico, sua competência e profissionalismo, mas, primordialmente, pela lição de humanidade que ele sempre me transmitiu – assim como a todos os atletas que já tiveram a sorte de passar por suas mãos.
Não sou uma atleta de ponta. Nem de meia ponta sou! Hahahahaha!!! Mas conheço o Tucano há 27 anos e acho que isso basta para que eu possa tecer comentários sobre sua pessoa.
Vamos ao feedback...
Sempre fui descoordenada. Hahahaha!!! Era um troço ruim porque ninguém me queria no time de vôlei da escola. Tampouco no de handebol. Eu era a reserva da reserva da reserva. Típico filme de high school americano, em que o “loser” fica sentado na arquibancada assistindo ao sucesso das cheerleaders peitudonas, loiras e gostosas! Hahahaha!!!
Minha mãe já havia me colocado no balé e na ginástica rítmica, mas sem sucesso... Na verdade, um desastre: eu parecia uma ema no cio dançando, com os meus gambitos pra lá e pra cá...
Até que um belo dia minha vida mudou. Eu tinha onze anos, estava na sexta série do Colégio Roland. O Tucano era o professor de Educação Física e ele pediu para que os alunos dessem umas três, quatro voltas na quadra, correndo. Obviamente, como todos adolescentes que se prezam, os alunos torceram o nariz e deram “migué” no professor: quando passavam em sua frente, corriam, mas tão logo o “prófi” saía do campo de visão, andavam feito umas lesmas, conversando, rindo, aquela bagunça... Mas exatamente naquele dia minha vida tomou um novo sentido. Pensei: “Puxa, não sei jogar handebol, sou uma pata descoordenada jogando vôlei, não consigo participar de nenhuma atividade física. Não, eu vou provar que consigo correr as quatro voltas sem andar. Eu consigo”. E lá fui eu. Quatro voltas sem parar. Como era de se esperar, todos os meus amigos, ao me observarem passar, riam e diziam: “Ei, pára de correr, não precisa, o professor não vai ver! Pra que cansar?”.
Acontece que ninguém sabia que naquele dia eu estava provando para mim mesma que era capaz de realizar algo importante, que se eu me concentrasse e fosse em frente, eu conseguiria vencer minhas limitações. E assim foi.
Ao terminar a corrida, o Tucano me chamou para começar a treinar na pista. Foi a partir daí que minha vida mudou completamente.
Primeiramente, o Tucano me ensinou disciplina, pois, no início, de segunda à sexta, ia, religiosamente, treinar. Mais pra frente, até nos sábados à tarde a gente corria, fazendo percurso embrenhado nas fazendas.
Em segundo lugar, o Tucano proporcionou que eu encontrasse amizades fortes e verdadeiras, que caminham comigo até hoje, como minhas amadas gêmeas Elaine e Eliane Real, Lucianinha Tonon, Alessandra Emidgio (que saudade, sumida!!!). É verdade que as amizades da infância e adolescência duram. E essas duraram. O atletismo me fez conhecer pessoas incríveis, batalhadoras e principalmente, o atletismo me tirou da “redoma de vidro” de menina de colégio particular e me colocou em contato com atletas das mais distintas idades, raças, condições sociais e realidades. Correr com senhores de sessenta e poucos, alguns ensacadores; com crianças, de escolas distantes da minha, da periferia, algumas até sem sapato, de pé no chão; isso tudo me fez aprender a respeitar o próximo. Não foi a religião, não foi a escola nem manual algum que me ensinou isso: foi o atletismo. O atletismo me fez ver que ninguém é melhor do que ninguém e que somos todos UM.
Treinei durante anos, depois fui morar no exterior. Voltei, veio a realidade da faculdade, logo após as mudanças constantes de lá pra cá na vida profissional, eu nesse meu life style cigano, hoje aqui, amanhã na Conchinchina, e assim por diante...
Dobras do destino, voltei à rota Rolândia/Maringá e cada vez mais tenho me fixado aqui em decorrência da UEM e em razão do meu amor. Nessa permanência, percebo que o Tucano continua o mesmo.
O mesmo treinador determinado, esforçado, competente, que dá seu sangue pelos atletas. E eu encontro o mesmo Tucano, agora já vovô do Joaquim, na pista, tomando tempo dos atletas, incentivando e puxando nos tiros (aaaaaaiiii!!!), firme e profissional, seja com um atleta de ponta, maratonista, seja com um moleque de onze anos que começou a treinar ontem.
O Tucano é um exemplo de técnico porque nunca fez distinção entre os atletas, nunca criticou resultados, nunca exigiu apenas medalhas ou troféus. O que ele sempre esperou de seus atletas – e acredito que ainda espera – é o esforço e a grande capacidade de transcendência dos próprios limites.
O Tucano me presenteou o atletismo e me fez entender que a corrida não é a parafernália de medalhas, de camisetas de competição, de barrinha de cereal, de corpo sarado: aprendi que o atletismo nos impulsiona a superar os próprios limites, faz com que tiremos de dentro uma força que nem sabíamos que existia, e principalmente, fortalece-nos e nos ensina a não desistir nunca. E isso não levo apenas na corrida – todos os ensinamentos do atletismo levo pra vida. E isso eu devo ao Tucano, grande professor, que me presenteou com o mundo do atletismo.
Parabéns a esse exemplo de profissional, que não precisa de favorezinhos políticos, não precisa de acordinhos nem de qualquer outro tipo de regalia, condição ou incentivo para trabalhar. Parabéns a esse exemplo de profissional e pessoa digna, que dia após dia, doa sua vida a treinar crianças, jovens, adultos e idosos, mostrando-lhes o verdadeiro sentido do esporte.
Parabéns e obrigada a esse profissional, que me ensinou a ser um ser humano melhor.
Prezado amigo Ivar Benazi, o Tucano, receba os abraços de parabéns do Mundo Baleias pelo aniversário, num belo dia, de São Cosme e Damião, e também pela trajetória que nos orgulha de sua amizade. Miguel Delgado.
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